domingo, 22 de novembro de 2009

PALAVRAS DO SANTO PADRE DURANTE A VIGÍLIA DE ORAÇÃO


Cidade das Artes e das Ciências
Sábado, 8 de Julho de 2006
Amados irmãos e irmãs
Tenho muito prazer em participar neste encontro de oração, no qual se deseja celebrar com grande alegria o dom divino da família. Sinto-me muito próximo na oração, de todos os que recentemente, padeceram o luto nesta cidade e com a esperança em Cristo ressuscitado, que dá alento e luz mesmo nos momentos da maior desgraça humana.
Unidos na mesma fé em Cristo, reunimo-nos aqui, de tantas partes do mundo, como uma comunidade que agradece e dá testemunho com júbilo do ser humano que foi criado à imagem e semelhança de Deus para amar e que só se realiza plenamente a si mesmo quando faz entrega sincera de si aos demais. A família é o ambiente privilegiado onde cada pessoa aprende a dar e receber amor. Por isso a Igreja manifesta constantemente a sua solicitude pastoral por este espaço fundamental para a pessoa humana. Assim ensina no seu Magistério: “Deus, que é amor e criou o homem por amor, chamou-o a amar. Criando o homem e a mulher, chamou-os ao Matrimónio a uma íntima comunhão de vida e amor entre eles, “de maneira que já não são dois, mas uma só carne” (Mt 19, 8)” (Catecismo da Igreja Católica. Compêndio, 337).
Esta é a verdade que a Igreja proclama ao mundo sem cessar. Meu querido predecessor João Paulo II dizia que “O homem se tornou “imagem e semelhança” de Deus, não somente através da própria humanidade, mas também através da comunhão das pessoas que o varão e a mulher formam desde o princípio. Tornam-se a imagem de Deus não tanto no momento da solidão quanto no momento da comunhão (Audiência geral de 14.11.1979). Por isso confirmei a convocação deste V Encontro Mundial das Famílias na Espanha, e concretamente em Valência, rica em suas tradições e orgulhosa da fé cristã que se vive e cultiva em tantas famílias.
A família é uma instituição de mediação entre o indivíduo e a sociedade, e nada a pode substituir totalmente. Ela mesma apoia-se sobretudo numa profunda relação interpessoal entre o esposo e a esposa, sustentada pelo afecto e compreensão mútuos. No sacramento do Matrimónio, ela recebe a abundante ajuda de Deus, que comporta a verdadeira vocação para a santidade. Queira Deus que os filhos contemplem mais os momentos de harmonia e afecto dos pais e não os de discórdia e distanciamento, pois o amor entre o pai e a mãe oferece aos filhos uma grande segurança e ensina-lhes a beleza do amor fiel e duradouro.
A família é um bem necessário para os povos, um fundamento indispensável para a sociedade e um grande tesouro dos esposos durante toda a sua vida. É um bem insubstituível para os filhos, que hão-de ser fruto do amor, da doação total e generosa dos pais. Proclamar a verdade integral da família, fundada no matrimónio, como Igreja doméstica e santuário da vida é uma grande responsabilidade de todos.
O pai e a mãe deram-se um “sim” total diante de Deus, o qual constitui a base do sacramento que os une; do mesmo modo, para que a relação interna da família seja completa, é necessário que digam também um “sim” de aceitação aos seus filhos, aos que geraram ou adoptaram e que têm a sua própria personalidade e carácter. Assim, eles irão crescendo num clima de aceitação e amor, e é de se desejar que ao alcançar uma maturidade suficiente queiram dar, por sua vez, um “sim” a quem lhes deu a vida.
Os desafios da sociedade actual, marcada pela dispersão que acontece sobretudo no ambiente urbano, fazem necessário garantir que as famílias não estejam sós. Um pequeno núcleo familiar pode encontrar obstáculos difíceis de superar se se acha isolado do resto dos seus parentes e amizades. Por isso, a comunidade eclesial tem a responsabilidade de oferecer acompanhamento, estímulo e alimento espiritual que fortaleçam a coesão familiar, sobretudo nas provações ou momentos críticos. Neste sentido, é muito importante o trabalho nas paróquias, assim como das diversas associações eclesiais, chamadas a colaborar como redes de apoio e auxílio à Igreja para o crescimento da família na fé.
Cristo sempre revelou qual é a fonte suprema da vida para todos e, portanto, também para a família: “Este é o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos” (Jo 15, 12-13). O amor do próprio Deus foi derramado sobre nós no baptismo. Portanto, as famílias sejam chamadas a viver essa qualidade de amor, pois o Senhor é quem se faz garante de que isso é possível para nós através do amor humano, sensível, afectuoso e misericordioso como o de Cristo.
Junto com a transmissão da fé e do amor do Senhor, uma das maiores tarefas da família é a de formar pessoas livres e responsáveis. Por isso os pais devem ir desenvolvendo nos seus filhos a liberdade, da qual durante algum tempo são tutores. Se estes vêem que seus pais e em geral os adultos que os rodeiam vivem a vida com alegria e entusiasmo, apesar das dificuldades, crescerá neles mais facilmente esse prazer imenso de viver que os ajudará a superar certamente os possíveis obstáculos e contrariedades que a vida humana comporta. Ademais, quando a família não se fecha em si mesma, os filhos vão aprendendo que toda a pessoa é digna de ser amada, e que tem uma fraternidade fundamental universal entre todos os seres humanos.
Este V Encontro Mundial convida-nos a reflectir sobre um tema de particular importância e que encerra uma responsabilidade para nós: “A transmissão da fé na família”. Expressa-o muito bem o Catecismo da Igreja Católica: “Tal como uma mãe ensina os seus filhos a falar e, dessa forma, a compreender e a comunicar, a Igreja, nossa Mãe, ensina-nos a linguagem da fé, para nos introduzir na inteligência e na vida da fé” (n.171).
Como simboliza na liturgia do baptismo, com a entrega da vela acesa, os pais são associados ao mistério da nova vida como filhos de Deus, que se recebe com as águas baptismais.
Transmitir a fé aos filhos, com a ajuda de outras pessoas e instituições como a paróquia, a escola ou as associações católicas, é uma responsabilidade que os pais não podem esquecer, descuidar ou delegar totalmente. “A família cristã é chamada Igreja doméstica porque manifesta e realiza a natureza comunitária e familiar da Igreja enquanto família de Deus. Cada membro, segundo seu próprio papel, exerce o sacerdócio baptismal, contribuindo para fazer da família uma comunidade de graça e de oração, escola de virtudes humanas e cristãs e lugar do primeiro anúncio da fé aos filhos” (Catecismo da Igreja Católica. Compêndio, 350). Ademais: “Os pais, partícipes da paternidade divina, são os primeiros responsáveis da educação dos seus filhos e os primeiros anunciadores da fé. Têm o dever de amar e de respeitar os seus filhos como pessoas e como filhos de Deus… Especialmente, têm a missão de educá-los na fé cristã” (Ibid.,460).
A linguagem da fé aprende-se nos lares onde esta fé cresce e se fortalece através da oração e da prática cristã. Na leitura do Deuteronómio ouvimos a oração repetida constantemente pelo povo eleito, o Shema Israel, e que Jesus escutaria e repetiria em seu lar de Nazaré. Ele mesmo a recordaria durante a sua vida pública como nos refere o evangelho de Marcos (12, 29). Esta é a fé da Igreja que vem do amor de Deus, por meio das vossas famílias. Viver a integridade desta fé, na sua maravilhosa novidade, é um grande dom. Mas nos momentos em que parece que se oculta o rosto de Deus, é difícil crer e custa um grande esforço.
Este encontro dá novo alento para seguir anunciando o Evangelho da família, reafirmar a sua vigência e identidade apoiada no matrimónio aberto ao dom generoso da vida e onde se acompanham os filhos no seu crescimento corporal e espiritual. Deste modo, opõe-se um hedonismo muito difundido, que banaliza as relações humanas e as esvazia do seu genuíno valor e beleza. Promover os valores do matrimónio não impede de saborear plenamente a felicidade que o homem e a mulher encontram no seu amor mútuo. A fé e a ética cristã, portanto, não pretendem sufocar o amor mas fazê-lo mais são, forte e realmente livre. Para isso, o amor humano necessita de se purificar e amadurecer para ser plenamente humano e princípio de uma alegria verdadeira e duradoura (cf. Discurso em São João de Latrão, 5 de Junho de 2006).
Depois, exorto os governantes e os legisladores a reflectirem sobre o bem evidente que os lares em paz e harmonia garantem ao homem, à família, centro nevrálgico da sociedade, como recorda a Santa Sé na Carta dos Direitos da Família. O objecto das leis é o bem integral do homem, a resposta às suas necessidades e aspirações. Isto é uma notável ajuda para a sociedade, da qual não se pode privar e para os povos é uma salvaguarda e uma purificação. Além disso, a família é uma escola de humanização do homem, a fim de que cresça até se fazer verdadeiramente homem.
Neste sentido, a experiência de ser amado pelos pais leva os filhos a ter consciência da sua dignidade de filhos.
A criatura concebida tem de ser educada na fé, amada e protegida. Os filhos, com o fundamental direito a nascer e ser educados na fé, têm direito a um lar que tenha como modelo o de Nazaré e sejam preservados de todo o tipo de insídias e ameaças.
Como escutámos, sou o avô do mundo. Desejo referir-me agora aos avós, tão importantes nas famílias. Eles podem ser e muitas vezes são garantes do afecto e da ternura que todo o ser humano necessita de dar e receber. Eles dão às crianças a perspectiva do tempo, são memória e riqueza das famílias. Deus queira que, por nenhuma razão, sejam excluídos do círculo familiar. São um tesouro que não podemos arrebatar às novas gerações, sobretudo quando dão testemunho da fé diante da proximidade da morte.
Agora gostaria de recitar uma parte da oração que rezastes pedindo pelo bom fruto deste Encontro Mundial das Famílias:
Oh, Deus, que na Sagrada Família
nos deixastes um modelo perfeito de vida familiar
vivida na fé e na obediência da vossa vontade.
Ajudai-nos a ser exemplo de fé e amor dos vossos mandamentos.
Socorrei-nos na nossa missão de transmitir a fé aos nossos filhos.
Abri seu coração para que cresça neles
a semente da fé que receberam no baptismo.
Fortalecei a fé dos nossos jovens,
para que cresçam no conhecimento de Jesus.
Aumentai o amor e a fidelidade em todos os casais,
especialmente naqueles que passam por momentos de sofrimento ou dificuldade.
(…)
Unidos com José e Maria,
Pedimos-vos por Jesus Cristo vosso Filho, nosso Senhor.
Amém.
HOMILIA DO SANTO PADRE
NA CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA
POR OCASIÃO DO ENCERRAMENTO
DO V ENCONTRO MUNDIAL DAS FAMÍLIAS
Cidade das Artes e das Ciências
Domingo, 9 de Julho de 2006
Queridos irmãos e irmãs!
Nesta Santa Missa que tenho a imensa alegria de presidir, concelebrando com numerosos Irmãos no Episcopado e com um grande número de sacerdotes, dou graças ao Senhor por todas as amadas famílias que se reuniram aqui formando uma multidão jubilosa, e também por muitas outras que, de terras longínquas, seguem esta celebração através da rádio e da televisão. Desejo saudar-vos a todos e expressar-vos o meu grande afecto com um abraço de paz.
Os testemunhos de Ester e Paulo, que ouvimos antes nas leituras, mostram como a família está chamada a colaborar na transmissão da fé. Ester confessa: “No seio da família, ouvi desde criança, Senhor, escolheste Israel entre todos os povos” (4, 16). Paulo segue a tradição dos seus antepassados judeus prestando culto a Deus com consciência pura. Louva a fé sincera de Timóteo e recorda-lhe: “a tua fé, que se encontrava já na tua avó, Loide, e na tua mãe Eunice e que, estou seguro, se encontre também em ti” (2 Tm 1, 5). Nestes testemunhos bíblicos a família compreende não só pais e filhos, mas também avós e antepassados. Assim, a família apresenta-se-nos como uma comunidade de gerações e garante de um património de tradições.
Nenhum homem se deu o ser a si mesmo nem adquiriu sozinho os conhecimentos elementares da vida. Todos recebemos de outros a vida e as verdades básicas para ela, e estamos chamados a alcançar a perfeição em relação e comunhão amorosa com os demais. A família, fundada no matrimónio indissolúvel entre um homem e uma mulher, expressa esta dimensão relacional, filial e comunitária, e é o âmbito no qual o homem pode nascer com dignidade, crescer e desenvolver-se de maneira integral.
Quando uma criança nasce, através do relacionamento dos seus pais começa a fazer parte de uma tradição familiar, que tem raízes muito mais antigas. Com o dom da vida recebe todo um património de experiência. A este respeito, os pais têm o direito e o dever inalienável de o transmitir aos filhos: educá-los no descobrimento da sua identidade, introduzi-los na vida social, na prática responsável da sua liberdade moral e da sua capacidade de amar através da experiência de serem amados e, sobretudo, no encontro com Deus. Os filhos crescem e maturam humanamente na medida em que acolhem com confiança esse património e essa educação que vão assumindo progressivamente.
Deste modo são capazes de elaborar uma síntese pessoal entre o que receberam e o que é novo, e que cada indivíduo e geração estão chamados a realizar.
Na origem de todos os homens e, por conseguinte, em qualquer paternidade e maternidade humana está presente Deus Criador. Por isso os esposos devem acolher a criança que nasce como filho que não é unicamente seu, mas também de Deus, que o ama por si mesmo e o chama à filiação divina. Contudo, qualquer geração, qualquer paternidade e maternidade, e qualquer família tem o seu princípio em Deus, que é Pai, Filho e Espírito Santo.
A Ester, seu pai tinha transmitido, com a memória de seus antepassados e do seu povo, a de um Deus do qual todos procedem e ao qual todos estão chamados a responder. A memória de Deus Pai que elegeu o seu povo e que actua na história para a nossa salvação. A memória deste Pai ilumina a identidade mais profunda dos homens: de onde vimos, quem somos e quanto é grande a nossa dignidade. Certamente, provimos de nossos pais e somos seus filhos, mas também vimos de Deus, que nos criou à sua imagem e nos chamou para sermos seus filhos. Por isso, na origem de todo o ser humano não existe a sorte ou a casualidade, mas um projecto de amor de Deus. Foi o que nos revelou Jesus Cristo, verdadeiro Filho de Deus e homem perfeito. Ele sabia de quem provinha e de quem provimos todos: do amor de seu Pai e nosso Pai.
Portanto, a fé não é uma mera herança cultural, mas uma acção contínua da graça de Deus que chama e da liberdade humana que pode ou não aderir a essa chamada. Mesmo se ninguém responde por outro, sem dúvida os pais cristãos estão chamados a dar um testemunho crível da sua fé e esperança cristã. Devem preocupar-se por que a chamada de Deus e a Boa Nova de Cristo cheguem aos seus filhos com a maior clareza e autenticidade.
Com o passar dos anos, este dom de Deus que os pais contribuíram para apresentar aos olhos dos pequeninos, também precisará de ser cultivado com sabedoria e doçura, fazendo crescer neles a capacidade de discernimento. Deste modo, com o testemunho constante do amor conjugal dos pais, vivido e impregnado de fé, e com o acompanhamento comprometido da comunidade cristã, será favorecido que os filhos façam seu o dom da fé, descubram com ela o sentido profundo da própria existência e se sintam alegres e gratos por isso.
A família cristã transmite a fé quando os pais ensinam os seus filhos a rezar e rezam com eles (cf. Familiaris consortio, 60); quando os aproximam dos sacramentos e os vão introduzindo na vida da Igreja; quando todos se reúnem para ler a Bíblia, iluminando a vida familiar à luz da fé e louvam a Deus como Pai.
Na actual cultura exalta-se com muita frequência a liberdade do indivíduo concebido como pessoa autónoma, como se ele se tivesse feito sozinho e se bastasse a si mesmo, à margem da sua relação com os demais e sem o sentido da responsabilidade para com o próximo. Procura-se organizar a vida social só a partir de desejos subjectivos e transitórios, sem qualquer referência a uma verdade objectiva prévia como a dignidade de cada ser humano e os seus deveres e direitos inalienáveis, a cujo serviço deve estar todo o grupo social.
A Igreja não cessa de recordar que a verdadeira liberdade do ser humano deriva do facto de ter sido criado à imagem e semelhança de Deus. Por isso, a educação cristã é educação da liberdade e para a liberdade. “Nós realizamos o bem não como escravos, que não são livres de agir de outra forma, mas fazemo-lo porque temos pessoalmente a responsabilidade pelo mundo; porque amamos a verdade e o bem, porque amamos o próprio Deus e portanto também as suas criaturas. Esta é a liberdade verdadeira, para a qual o Espírito Santo nos quer conduzir” (Homilia na Vigília de Pentecostes).
Jesus Cristo é o homem perfeito, exemplo de liberdade filial, que nos ensina a comunicar aos demais o seu próprio amor: “Assim como o Pai me tem amor, assim Eu vos amo a vós. Permanecei no meu amor” (Jo 15, 9). A este propósito o Concílio Vaticano II ensina que “os cônjuges e pais cristãos, seguindo o seu próprio caminho, se ajudem mutuamente a conservar a graça no decorrer de toda a sua vida, numa grande fidelidade de amor, e que eduquem na doutrina cristã e nas virtudes evangélicas a prole que receberem amorosamente de Deus. Oferecem, assim, a todos o exemplo de um amor incansável e generoso, constróem a fraternidade da caridade e apresentam-se como testemunhas e cooperadores da fecundidade da Mãe Igreja, como símbolo e participação do amor com que Cristo amou a sua Esposa e por Ela se entregou” (Lumen gentium, 41).
A alegria amorosa com que os nossos pais nos acolheram e acompanharam nos primeiros passos neste mundo é como um sinal e prolongamento sacramental do amor benevolente de Deus, do qual procedemos. A experiência de sermos acolhidos e amados por Deus e pelos nossos pais é a base sólida que favorece sempre o crescimento e desenvolvimento autênticos do homem, que tanto nos ajuda a amadurecer no caminho para a verdade e para o amor, e a sairmos de nós mesmos para entrarmos na comunhão com o próximo e com Deus.
Para progredir nesse caminho de maturidade humana, a Igreja ensina-nos a respeitar e a promover a maravilhosa realidade do matrimónio indissolúvel entre um homem e uma mulher, que é, além disso, a origem da família. Portanto, reconhecer e ajudar esta instituição é um dos maiores serviços que se possam prestar hoje ao bem comum e ao verdadeiro desenvolvimento dos homens e das sociedades, assim como a melhor garantia para assegurar a dignidade, a igualdade e a verdadeira liberdade da pessoa humana.
Neste sentido, desejo realçar a importância e o papel positivo que realizam as diversas associações familiares eclesiais em favor do matrimónio e da família. Por isso, “desejo convidar todos os cristãos a colaborar, carinhosa e corajosamente, com todos os homens de boa vontade, que vivem a responsabilidade própria no serviço à família” (Familiaris consortio, 86), para que unindo as suas forças e com uma pluralidade legítima de iniciativas, contribuam para a promoção do verdadeiro bem da família na sociedade actual.
Voltemos por um momento à primeira leitura desta Missa, tirada do livro de Ester. A Igreja orante viu nesta humilde rainha, que intercede com todo o seu ser pelo seu povo que sofre, uma prefiguração de Maria, que seu Filho nos deu a todos como Mãe; uma prefiguração da Mãe, que protege com o seu amor a família de Deus que peregrina neste mundo. Maria é a imagem exemplar de todas as mães, da sua grande missão como guardiãs da vida, da sua missão de ensinar a arte de viver, a arte de amar.
A família cristã pai, mãe, filhos está portanto chamada a cumprir os objectivos assinalados não como algo imposto de fora, mas como um dom da graça do sacramento do matrimónio infundida nos esposos. Se eles permanecerem abertos ao Espírito e pedirem a sua ajuda, ele não deixará de lhes comunicar o amor de Deus Pai manifestado e encarnado em Cristo. A presença do Espírito ajudará os esposos a não perder de vista a fonte e medida do seu amor e entrega, e a colaborar com ele para o reflectir e encarnar em todas as dimensões da sua vida. Desta forma, o Espírito suscitará neles o anseio do encontro definitivo com Cristo na casa de seu Pai e nosso Pai. É esta a mensagem de esperança que, de Valência, quero fazer chegar a todas as famílias do mundo. Amém!.

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